quarta-feira, março 08, 2006

Belo, o horror de ser

O sangue precipita-se sobre o soalho gélido, esfuma-se a alma do tipo perante meu olhar incrédulo, a faca na mão direita, o punho que não cede. O tipo entrou-me em casa às três da manhã, o frio da madrugada não me impediu de me levantar a fim de apurar os ruídos que entoavam do lado de lá da porta, dou de caras com o vulto, o homem a ameaçar-me com um martelo, olha que te mato, volta para a tua cama e deixa-me acabar o que vim aqui fazer, e eu não volto, não tenho medo e agarro a faca com a força de quem segura uma espada, grito e vou-me a ele, tenta acertar-me com o martelo, em vão, já é tarde, tem a faca a sair-lhe do estômago, o sangue a brotar-lhe dos lábios finos e rasgados do frio, o rosto a precipitar-se com violência a caminho do chão, o choque, o barulho ensurdecedor do gemido agudo que a sua voz ainda consegue soltar, a beleza da sua imagem esvaída em sangue sobre um chão que há pouco fora lavado, o cheiro da lixívia e o cheiro do sangue casados por momentos. Eu fico ali a olhar, a gozar aquela imagem cruel, a rogar de mim os meus sentimentos mais perversos, a invocar o meu sadismo, a descobrir no horrível a beleza, a saciar a minha sede de ser no não ser de uma inexistência que aquele se tornou!!!

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