quarta-feira, março 08, 2006

Não havia tempo para mais?

Por um momento, desprego o olhar do chão onde outras almas pecaminosas soltam os seus pecados e olho o céu azul, esse tecto de todos nós a que levantamos as mãos a fim de uma ajuda divina…

Lá em cima, um avião com destino desconhecido voa rumo a norte, desenhando no horizonte, um risco curioso que sigo com os olhos, procurando-lhe um fim que muda a cada momento.

Assim é a vida das pessoas, mudando a cada instante, embora não as vezes suficientes para nos tornar mais ricos.

O avião que me sobrevoou faz-me pensar nos sonhos de criança e faz-me perceber que nunca – jamais – chegarei a ser piloto…

De súbito, passam-me mil imagens do que eu nunca vou ser, limitado que estou – ou que julgo estar – a ser aquilo para que as minhas bases me prepararam.

E nesse mesmo instante apercebo-me de que jamais serei um astronauta, ou um membro importante de uma força especial, ou um actor reconhecido pelo seu talento, ou um músico, ou um pintor, ou um jogador de futebol, ou um grande treinador, etc, etc, etc…

Apercebo-me ainda de nunca serei um poliglota, ou um génio matemático, ou um grande mestre de artes marciais, bem como nunca terei o conhecimento que outros conseguiram adquirir…

Apercebo-me que jamais conhecerei mil e uma sensações a que outros tiveram direito – ou que adquiriram esse direito.

Naquele momento, sei mais do que nunca que uma vida só não chega para nada!

Uma vida só é muito pouco perante tudo aquilo que havia para podermos ser e que nunca fomos – ou que nunca chegaremos a ser.


Naquele momento, ganha ainda mais sentido uma frase que partilhei com um amigo, uns meses antes:

“O cúmulo da pobreza é sabermos que existe um universo com milhões e milhões anos-luz por explorar e contentar-mo-nos em viver toda a nossa vida num espaço com pouco mais de 40 ou 50 m2”


Hoje, acrescentaria ainda:

“Aquilo que eu sou, vê-se imensamente diminuído perante aquilo que eu não sou…”


E será que não há mesmo tempo para mais?!

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