Estava quieta a um canto, parecendo completamente imóvel.
Podia passar assim os dias, sem que ninguém desse conta que ela existia.
Mesmo assim, já tinha viajado muito, ao longo de toda a sua imortalidade.
Andou por sítios onde outros não ousam sequer sonhar em lá chegar.
Já tinha passado por vários estados de espírito...
Levou muitos pontapés durante a sua longa existência, mas se pudesse falar, tinha também, algumas boas histórias para contar.
Testemunhou acontecimentos de que alguns se envergonhariam se soubessem, mas também assistiu a bravos eventos que orgulhariam a quem de direito.
Durante a sua quase eterna vida, nadou por rios de toda a parte, às vezes arrastada pelas correntes; andou por imensos caminhos deste mundo, às vezes arrastada pelo vento; subiu e desceu montes, umas vezes aliada e outras vezes zangada com o clima; frequentou casas e quintais de gente rica e gente pobre, uns julgando-a preciosa, alguns julgando-a portadora de alegrias e mais valias, outros julgando-a só bonita, e outros tantos sem dar conta da sua existência; foi vista e admirada, mas também foi pisada e humilhada...
Teve momentos bons e teve momentos maus.
Agora, descansava quieta a um canto, parecendo quase imóvel, talvez à espera que alguém lhe desse um pontapé, ou ventos fortes se fizessem sentir, ou as águas das cheias a arrastassem dali, ou alguém se lembrasse de a atirar ao rio ou ao mar, e aí, a viagem recomeçasse...
No fundo, sentia que era uma pedra como outra qualquer, que já tinha passado por vários estados de espírito, entre eles o gasoso, o líquido e agora, o sólido...
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