quarta-feira, março 08, 2006

Veio visitá-lo

Veio visitá-lo...

Veio visitá-lo naquele dia! Assim, sem mais nem menos…

Apareceu-lhe, passados mais de trinta anos. Trinta e dois, para ser mais preciso…

Quis o destino que nunca mais se vissem desde o dia em que um abandonou o outro, numa divergência de ideias que surgiu em consequência do que um dizia ser um projecto apaixonante e o outro dizia ser um projecto de risco que não valia a pena levar a avante…

Agora, vinha visitá-lo precisamente numa altura em que este se debatia com um novo desafio que lhe podia alterar a vida. Talvez tentasse, mais uma vez, e ao fim de tantos anos, voltar a interferir nas suas decisões.

Apresentou-se exactamente com o mesmo ar juvenil e com os mesmos ideais destemidos de há mais de trinta anos atrás. Continuava a mesma criança atrevida e alegre que um dia o abandonara nos seus princípios adultos…

E ele, o mesmo tipo cheio de dúvidas que já tinha deixado de ser desde o dia em que se viram pela última vez. Agora, voltara a sê-lo em consequência de uma paixão por uma bela mulher que lhe despertara alguns sentidos que, fazia muito tempo, estavam adormecidos. Voltaram então, as dúvidas: seria adequado voltar a apaixonar-se com a idade que tinha? Seria conveniente deixar que o coração tomasse o comando do seu navio? Seria oportuno abandonar alguns dos princípios que considerava fundamentais em prol de emoções até então camufladas? Seria cómodo correr o risco de tudo não passar de mais uma desilusão?

Todas as dúvidas coincidiam agora, com a visita inesperada daquele que o abandonara há mais de trinta anos – trinta e dois, para ser mais preciso –, daquele que vinha de novo para se intrometer nas suas decisões mais difíceis, daquele que se apresentava com o mesmo ar juvenil e com os mesmos ideais destemidos de sempre.

Esse, o seu espírito infantil, a criança que ele tinha sido um dia, não deixaria que este o expulsasse novamente da sua vida. Não agora, que se tinha dado ao trabalho de voltar...

Não agora, que tinha a derradeira oportunidade de voltar a andar de mãos dadas com ele. Não agora, que sentia viver outra vez...

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